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Como lidar com animais silvestres peçonhentos
Sexta, Novembro 01, 2024
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Como lidar com animais silvestres peçonhentos

A maioria de nós já deve ter encontrado algum animal dentro ou nas proximidades de casa, desde serpentes até simples aranhas inofensivas, eles estão sempre ao nosso redor. Entretanto, se você se deparasse com algum animal que oferecesse certo risco a você ou a alguma criação sua? Você saberia como agir nesta situação? Neste artigo vamos discutir um pouco sobre isso.

Animais peçonhentos são comumente encontrados tanto no meio urbano quanto fora dele. Ao se deparar com certas situações, faz-se de demasiada importância os conhecimentos sobre espécies nativas de acordo com a localidade, os aspectos clínicos dos envenenamentos e sua terapêutica para que através da compreensão dos mecanismos de ação desses animais, acidentes sejam minimizados. Sabendo que no Brasil, devido à sua alta diversidade de insetos, serpentes, aracnídeos, anfíbios e peixes, a quantidade de acidentes é superior ao abastecimento de soro no país. Preparar-se para as diversas situações com animais e humanos é o principal meio de ação, desde reconhecer os sintomas antes de deslocar a vítima, até solucionar urgências e emergências em regiões remotas, quando não é possível atendimento hospitalar de imediato.

Serpentes

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Bothrops – Jararaca

Em determinadas épocas do ano devido a relação entre temperatura e pluviosidade, há exposições de serpentes peçonhentas. Quando se fala de acidentes com esses animais, a sazonalidade deve ser analisada como métodos de alerta, visto que, regiões do Sul, Centro-Oeste e Sudeste apresentam mais ocorrências nos meses de novembro a março, enquanto no Nordeste e no Norte, há registros maiores nos primeiros meses do ano. No país, encontram-se quatro gêneros de serpentes peçonhentas (de interesse médico devido a potência de sua peçonha), sendo as jararacas, cascavéis, surucucu-pico-de-jaca e as corais verdadeiras, as quais são associadas a sintomas envolvendo hemorragias ou coagulação, atividade inflamatória, infecções, insuficiências renais, neuro toxidade, entre outros.

Segundo o Ministério da Saúde e outros órgãos como o SINAN e o SVS, 87% dos acidentes ocorrem com jararacas. Quanto aos acidentes com essas, é de extrema importância o deslocamento ao hospital, pois seu tratamento depende da administração do soro antiofídico (só disponíveis em centros autorizados). Primordialmente, deve-se identificar o gênero, seja através de fotos e descrições, quando não é possível levar o animal até o local, pois a partir do reconhecimento, será administrado o soro específico. Em relação aos acidentes com criações, soros são vendidos em lojas agropecuárias para socorros pré-atendimento.

Quanto aos fatores relacionados as serpentes: serpentes maiores podem causar acidentes mais graves quando comparadas as menores.

Peso e idade do paciente: crianças tem maiores probabilidades de desenvolver complicações.

Região onde ocorreu a picada: extremidades corporais tendem a evoluir para necroses.

USO DO TORNIQUETE: a utilização é TOTALMENTE CONTRAINDICADO, pois o seu uso acarreta a intensificação do veneno, aumentando assim a probabilidade de complicações.

O QUE FAZER NO TEMPO DECORRIDO ENTRE A PICADA E O INÍCIO DO ATENDIMENTO: evitar andar e fazer esforços pois o metabolismo acelerado ajuda a circulação de sangue e consequentemente passagem do veneno, monitorar a frequência cardíaca, respiratória e pressão arterial, monitorar estado de hidratação, coloração e volume urinário com o intuito de visualizar possíveis lesões renais e jamais entrar em contato com o local, visando evitar infecções.

Algumas espécies podem apresentar veneno mesmo que não seja capaz de causar acidentes graves à seres humanos, pode-se citar a famosa “cobra-cipó” característica pela sua cor verde e com grande ocorrência no país, e mitologicamente conhecida por não apresentar peçonha, mas pode gerar os leves sintomas de inchaço do local, podendo surgir manchas além de alguns distúrbios corporais. A lavagem do local e observação da evolução são os meios simples de evitar complicações.

Escorpiões

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Tityus serrulatus – Escorpião amarelo

A proporção dos acidentes com esses animais é predominante em ambientes urbanos devido as condições ambientais de fácil acesso a alimentos e processos reprodutivos. A sazonalidade é a mesma das serpentes, mais acentuada nos meses mais quentes, exceto no Norte onde as concentrações são maiores entre março e julho. Os acidentes podem ser leves, moderados ou graves, sendo o último identificado pela frequência de vômitos. A dor no local da picada é imediata e manifesta-se sob forma de queimação ou agulhada, podendo irradiar por todo o membro atingido.

A evolução do caso, pode apresentar náuseas, vômitos, diarreia e taquicardia. Em casos de manifestações neurológicas, tremores e contrações musculares podem ocorrer. A evolução do quadro após o acidente é de 4 a 6 horas. O combate a dor geralmente é suficiente para os casos leves e moderados, podendo ser combatida com analgésicos locais e por via oral, portanto, tenha-os sempre de fácil acesso. Em caso de vômitos, a hidratação é o principal meio de combate.

A prevenção em meio urbano pode ser feita através da limpeza e organização do ambiente, pois os escorpiões preferem lugares úmidos e escuros, como atrás de moveis, entulhos e até mesmo dentro de calçados. Uma boa opção em meios rurais é a criação de galinhas, predadoras naturais desses artrópodes.

Aranhas

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Phoneutria – Armadeira

Quando se trata de aranhas, é característica exclusiva delas, a presença de glândulas de veneno nas cerdas ao longo do corpo, as quais ao entrar em contato com a pele, podem causar acidentes graves. Porém, devido a baixa toxidade do veneno em humanos, não é recorrente complicações sérias.

No Brasil, três gêneros de aranhas perigosas são encontradas, a aranha-armadeira (15 cm – arma posição de ataque), a aranha-marrom (3cm – pica quando é espremida contra o corpo) e a viúva-negra (3 cm – colheita no campo), geralmente encontrada em troncos e bromélias, cascas de árvores, vegetação arbustiva e em meio urbano em locais escuros como garagens e porões.

Mas em todas citadas, o procedimento é muito parecido. Conforme a manifestação clínica, sintomas como vômitos e arritmia indicam comprometimento sistêmico nas primeiras horas do acidente, sendo necessário observar o seu próprio corpo para que o encaminhamento médico seja feito, pois em casos graves há danos de necroses teciduais ocorrendo dentro das três primeiras horas do envenenamento. Em acidentes leves, dores e inchaço são comuns, podendo ser solucionados com analgésicos locais.

Lagartas

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Lonomia – Taturana

Em território nacional a quantidade de lagartas venenosas é enorme, entretanto mesmo com toda essa abundancia de espécies, há algumas características indicativas que podem lhe mostrar se o animal ali na sua frente pode ou não lhe oferecer algum risco. Os principais pontos a se observar é a presença de cerdas por toda a extensão do corpo que na maioria dos casos de espécies venenosas é composto por cores vibrantes e chamativas, representando a periculosidade daquele animal.

Os acidentes causados por esse inseto que tem a forma de larva urticantes, provocam quadros dermatológicos geralmente de curta duração. Dores, queimação e coceira são comuns, e em casos onde as cerdas agem pressionando a pele, lesões podem surgir. Para evitar isso, mecanismos como o uso de antialérgicos, aplicação de calor para facilitar a remoção das cerdas implantadas e o uso de pomadas anti-inflamatórias são importantes para que não haja evolução do quadro.

Abelhas e Vespas

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 Polistes versicolor – Marimbondo

É comum em trilhas ou atividades que há contato direto na natureza, encontrar abelhas e vespas, onde em situações extremas, indivíduos alérgicos podem desenvolver graves quadros por reações tóxicas. As vespas podem ferroar várias vezes, diferente das abelhas que em uma única picada, ocorre o desprendimento do aparelho gastrointestinal, ocasionando a morte do inseto e consequentemente, deixando o ferrão preso.

Estima-se que em um adulto, 500 picadas de abelhas seriam potencialmente letais devido ao efeito tóxico do veneno. Além dos sintomas locais, vômitos, diarreia, fraqueza e coloração escura da urina podem-se fazer presentes. A remoção do ferrão deve acontecer o quanto antes e deve ser feita cuidadosamente sem compressão, evitando que mais veneno seja injetado na vítima.

A aplicação de compressas frias e uso de analgésicos podem auxiliar os casos simples, e em casos onde o inchaço é maior, é considerável o uso de corticoides. As medidas preventivas são a forma mais fácil de minimizar exposições, incluindo evitar o uso de cosméticos e perfumes, roupas coloridas, assim como se munir com o uso de roupas protetoras.

Piolho de cobra

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Diplopoda – Piolho de cobra

Apesar do nome popular estar assimilado as serpentes, esse artrópode não está de forma alguma relacionada a qualquer espécie de serpentes.

No meio rural, um dos principais acidentes que podem ocorrer, é o contato direto com o piolho de cobra. Nas ocorrências, o principal sintoma é a dor e o inchaço no local, podendo evoluir para mal-estar. O acidente ocorre quando o animal é comprimido pela pele, por exemplo, ao calçar sapatos.

O local deve ser lavado com água e sabão, além da ingestão de analgésicos para o controle da dor. As lesões causadas são altamente inflamatórias. O uso de álcool e éter no local é algo ainda não estudado, mas sabe-se que funcionam como solventes dos venenos.

Animais aquáticos

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Batoidea – Arraia

A quantidade de peixes peçonhentos no Brasil é bem pequena, são eles as arraias, bagres e cações. As complicações nesses acidentes geralmente são em casos de infecções secundárias por retenção dos ferrões. Todo veneno de peixe é termolábil, então pode-se fazer a imersão do local afetado em água quente por volta de 60°C para amenizar a dor, retirar os fragmentos do ferrão e cuidar da lesão com soro fisiológico e água oxigenada.

Há também as águas-vivas, os sinais em caso de acidente são de dor intensa e queimação. Dentro de duas horas, há o surgimento de bolhas. Recomenda-se o uso da própria água marinha gelada no local para alívio da dor, compressas de vinagre e analgésico. Em casos de acidentes graves, é necessário o atendimento de urgência.

Há enormes lendas e soluções caseiras desconhecidos do ponto de vista científico como urinar no local acidentado ou até mesmo esfregar os olhos do animal. Como prevenção, é recomendado que ao andar em locais habitados por raias, pode-se arrastar os pés ou utilizar uma vara para auxiliar no reconhecimento do substrato. Em situações extremas, imobilizar a cauda do animal com pedaços de madeira ou objetos similares pode ser uma boa rota de fuga, lembrando que jamais deve pisar sobre a cauda, pois acidentes dessa forma já foram registrados.

Conclusão

Diante dos riscos, é de demasiada importância que ao entrar em contato direto em regiões onde animais peçonhentos estejam presentes, principalmente em meios rurais e em trilhas, onde a fauna está em seu habitat natural e possivelmente reagirá sobre qualquer ameaça, se possível manter distância, alternar caminhos ou retornar.

Em casos onde há dúvidas se o animal pode vir a apresentar riscos ou não, sempre deve ser considerado uma ameaça, esse é o principal meio de prevenir os acidentes. Caso venha a acontecer, os primeiros passos expostos no texto supracitado podem diminuir os riscos, amenizar os sintomas que foram imediatos e até mesmo minimizar sequelas que poderiam ser advindas de uma má reação por protocolos errôneos.

Com o reconhecimento local da fauna e princípios imediatos das urgências em mente, acidentes podem ser evitados e solucionados sem pânico, priorizando sempre o bem-estar e a preservação da vida.


Texto escrito por Anna Cecília Santana, Pesquisadora no âmbito de ações antrópicas na conservação de ofídios peçonhentos e Co-fundadora do projeto Medicina Selvagem: répteis in focus.

Por Sobrevivencialismo.com

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