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Estudo: mudança climática não é causa da seca no Rio Grande do Sul
Sexta, Novembro 01, 2024
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Estudo: mudança climática não é causa da seca no Rio Grande do Sul

Grupo internacional de cientistas estudou a seca na Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul que assola a região por anos seguidos

Um estudo internacional de atribuição que acaba de ser publicado não identificou as mudanças climáticas como causa da seca que assola a Argentina, o Uruguai e o Rio Grande do Sul por verões seguidos, trazendo enorme impacto econômico na região do Cone Sul da América. Os cientistas, entretanto, ponderaram que o calor excessivo aumentado pelas mudanças no clima agravou os efeitos da seca.

Desde 2019, grandes partes da Argentina e países vizinhos sofrem com as condições de estiagem ou seca, com os últimos quatro meses de 2022 recebendo apenas 44% da precipitação média: a menor precipitação em 35 anos. O Rio Grande do Sul enfrenta quatro anos seguidos de estiagem no verão e atualmente mais de 300 municípios gaúchos estão em situação de emergência.

Em outubro de 2022, o Uruguai declarou uma emergência agrícola (que foi estendida) e a subsequente deterioração das condições de cultivo afeta agricultores e residentes já vulneráveis no coração agrícola do continente. A saúde das colheitas na Argentina é declaradamente a pior em 40 anos, com graves impactos esperados nas colheitas de trigo e soja.

A Argentina já registrou uma queda de 61% na receita de exportação de grãos e oleaginosas entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023. Simultaneamente à seca, uma série de ondas de calor recordes, que um estudo anterior de atribuição considerou mais severas devido às mudanças climática, está afetando a região. O calor contínuo exacerba os impactos da seca na agricultura, por exemplo, colocando estresse térmico além do estresse hídrico nas plantações.

Cientistas da Argentina, Colômbia, França, Estados Unidos da América, Holanda e Reino Unido colaboraram para avaliar até que ponto as mudanças climáticas induzidas pelo homem alteraram a probabilidade e a intensidade da baixa pluviosidade que levou à seca, concentrando-se no período crítico de outubro a dezembro de 2022. O trabalho é da World Weather Attribution.

Usando métodos revisados por pares e publicados (peer-reviewed), a equipe internacional de cientistas definiu o evento pela precipitação média durante esses três meses para a região de maiores impactos, e analisou se a mudança climática alterou a probabilidade e a intensidade da chuva anormalmente baixa.

Uma vez que a estação também foi caracterizada por múltiplas ondas de calor, os pesquisadores avaliaram adicionalmente o efeito da temperatura, em particular, e em que medida a mudança climática influenciou a evapotranspiração, exacerbando assim a seca.

A América do Sul Central sofre com a seca há três anos, com a La Niña no Pacífico. Existe uma alta correlação entre o déficit de chuvas na região de estudo durante os meses de outubro a dezembro e o índice Niño 3,4 do Oceano Pacífico Equatorial. Assim, o déficit de chuvas é em parte impulsionado pelo La Niña.

A fim de identificar se a mudança climática induzida pelo homem também foi um impulsionador do déficit de chuvas, os pesquisadores analisaram as chuvas na região mais impactada. Para a região como um todo, o evento tem período de retorno de 20 anos, ou seja, tem 5% de chance de ocorrer em qualquer ano. Em estações individuais, é um evento menos comum, com tempos de retorno de até 50 anos.

Nas observações, os cientistas identificaram uma tendência de redução das chuvas nos últimos 40 anos, embora afirmam não ter certeza de que essa tendência esteja além do esperado pela variabilidade natural da região.


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Efeitos da seca no Rio Paraná, em 2021, junto à cidade de Rosario, na Argentina | JUAN MABROMOTA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

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Argentina é o país agrícola mais castigado do Cone Sul da América por anos seguidos de chuva abaixo do normal | JUAN MABROMOTA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

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Região central da Argentina, a maior produtora de grãos do país, foi a que mais sofreu com os déficits de precipitação | JUAN MABROMOTA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

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Solo rachado no município gaúcho de Sobradinho em fevereiro de 2023 | IARA PUNTEL

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Parque Nacional da Lagoa do Peixe secou pelo segundo ano seguido com a estiagem no Leste do Rio Grande do Sul | ROSINARA FERREIRA

A fim de identificar se a redução da precipitação é uma tendência real além da variabilidade natural que pode ser atribuída à mudança climática, examinaram os eventos de chuva escassa dos últimos 20 anos na mesma região em modelos climáticos. Descobriram que os modelos mostram uma tendência de os eventos de baixa precipitação diminuírem, o oposto da tendência observada na maioria dos registros meteorológicos, embora essa tendência novamente não seja significativa e seja compatível com a variabilidade natural. “Assim, não podemos atribuir a baixa pluviosidade às mudanças climáticas”, afirma a equipe de pesquisadores.

Isso não exclui que a mudança climática tenha afetado outros aspectos da seca, dizem. Para investigar se as altas temperaturas, em parte atribuíveis às mudanças climáticas, levaram a um déficit na disponibilidade de água, calculada como evapotranspiração potencial subtraída da precipitação, repetiram a análise para esse indicador. Não encontraram um sinal significativo de mudança climática na chuva.

As temperaturas mais altas na região, atribuídas às mudanças climáticas, contudo, diminuíram a disponibilidade de água, e o estudo não pôde quantificar esse efeito. Isso significa que, embora a redução das chuvas esteja dentro da variabilidade natural, as consequências da seca estão se tornando mais severas devido ao forte aumento do calor extremo.

Por MetSul.

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