Líder chinês abre Congresso do Partido Comunista a caminho de um terceiro mandato. Em discurso, ele afirma que Pequim tem controle total de Hong Kong e tomará "todas as medidas necessárias" para fazer o mesmo com Taiwan.
O presidente da China, Xi Jinping, abriu neste domingo (16/10) o 20º Congresso do Partido Comunista com um discurso duro em relação a Taiwan, afirmando que não descarta o uso da força para garantir o controle total da ilha autogovernada, que Pequim considera território chinês.
"Insistimos em lutar pela perspectiva de uma reunificação pacífica com a maior sinceridade e com os maiores esforços", disse o líder chinês. "No entanto, não estamos comprometidos em abandonar o uso da força e nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias."
Em recado à comunidade internacional, Xi acrescentou que "resolver a questão de Taiwan é assunto do próprio povo chinês, e cabe ao povo chinês decidir".
"As rodas históricas da reunificação nacional e do rejuvenescimento nacional estão avançando, a reunificação definitivamente deve ser alcançada e a reunificação definitivamente será alcançada", afirmou, arrancando aplausos de seus companheiros de partido.
Em resposta às declarações de Xi, Taipei declarou que não cederia sua soberania nem comprometeria a liberdade e a democracia. O gabinete presidencial de Taiwan enfatizou que ambos os lados compartilham a responsabilidade de preservar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan e na região, e que entrar em combate não é uma opção.
Taiwan é uma ilha autogovernada desde 1949, com regime democrático e politicamente próxima de países do Ocidente. A China, no entanto, a considera parte de seu território e exige que os países escolham se vão manter relações diplomáticas com Pequim ou com Taipei.
A ilha esteve recentemente no centro de uma tensão geopolítica, depois que a presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, fez uma visita a Taiwan, provocando a fúria de Pequim. Em resposta, o governo chinês realizou exercícios militares ao redor da ilha.
Os EUA não têm laços diplomáticos formais com Taiwan e reconhecem a República Popular da China, com sede em Pequim, como "único governo legal". No entanto, Washington não reconhece explicitamente a soberania chinesa sobre Taiwan e continua fornecendo armas à ilha.
Xi mencionou ainda outro território sensível de sua gestão, Hong Kong, sobre o qual a China já alcançou um "controle total", segundo o líder chinês. Pequim reprimiu duramente os movimentos dissidentes na região após amplas manifestações pró-democracia em 2019.
O presidente afirmou que as medidas tomadas em Hong Kong restauraram a ordem e garantiram que a região semiautônoma seja governada por patriotas. Segundo ele, Hong Kong "entrou num novo estágio, no qual restaurou a ordem e está pronto para prosperar".
O Congresso do Partido Comunista Chinês ocorre a cada cinco anos e elege o líder do país. Na China, não há eleições diretas para presidente. No fim da reunião de uma semana, que reúne quase 2.300 membros do partido único, Xi deve ser confirmado para um inédito terceiro mandato à frente do país, tornando-se o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-Tung.
O Congresso do Partido Comunista ocorre a cada cinco anos e reúne seus mais de 2 mil membros - Foto: Mark Schiefelbein/AP Photo/picture alliance |
Reforço das Forças Armadas
Em seu discurso de abertura de uma hora e 45 minutos, o presidente defendeu ainda um crescimento militar e tecnológico mais rápido, a fim de promover o "rejuvenescimento da nação chinesa".
Objetivo da gestão de Xi, esse conceito inclui reavivar o papel do partido como líder econômico e social, retornando ao que o presidente chinês considera como era dourada depois que a legenda assumiu o controle total do país, em 1949.
Ele acrescentou que o Exército de Libertação Popular, braço militar do partido, deve "salvaguardar a dignidade e os interesses básicos da China", aludindo a uma lista de disputas territoriais e outras questões diante das quais o governo em Pequim afirma estar pronto para ir à guerra.
A China está atualmente em desacordo com os governos do Japão, da Índia e de nações do Sudeste Asiático em relação às suas reivindicações territoriais.
Pequim, com o segundo maior orçamento militar do mundo depois dos Estados Unidos, está tentando estender seu alcance por meio do desenvolvimento de mísseis balísticos, porta-aviões e postos militares avançados no exterior.
"Trabalharemos mais rápido para modernizar a teoria militar, o pessoal e as armas", declarou Xi. "Reforçaremos as capacidades estratégicas dos militares."
Elogios ao regime
Xi Jinping também não poupou elogios ao Partido Comunista, que disse estar assegurando a estabilidade social, preservando a segurança nacional e defendendo vidas.
Segundo ele, a legenda única da China "ganhou a maior batalha contra a pobreza na história da humanidade" com as políticas domésticas de Pequim de priorizar o avanço da prosperidade compartilhada. O governo pretende acelerar a criação de um sistema habitacional e aprimorar o sistema de distribuição de riqueza, afirmou o político.
Após ser alvo de críticas por meses devido à restrita política de covid zero da China e seu impacto econômico, Xi elogiou a medida afirmando que ela ajudou a proteger "a segurança da vida e a saúde física dos cidadãos ao máximo".
Ele acrescentou que o país "obteve grandes resultados positivos na prevenção e controle geral da epidemia", mas se absteve de afirmar se a política rigorosa chegaria ao fim em breve.
O presidente também prometeu resolver a questão do declínio da taxa de natalidade na China. "Estabeleceremos um sistema de políticas para aumentar as taxas de natalidade e buscar uma estratégia nacional proativa em resposta ao envelhecimento da população", disse.
Especialistas afirmam que a segunda maior economia do mundo pode sofrer danos como resultado de um declínio populacional iminente.
O líder de 69 anos também destacou o progresso chinês na defesa do meio ambiente. Ele prometeu a continuação de uma "revolução energética" e a promoção do uso limpo do carvão, ao mesmo tempo em que aborda a poluição do solo, do ar e da água.
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Por DW Brasil / ek (AP, Reuters, Lusa, AFP)