Pyongyang afirma que testou com sucesso novo drone nuclear submarino com potencial para destruir portos e frotas navais. Analistas questionam real ameaça da suposta nova arma.
A Coreia do Norte anunciou nesta sexta-feira (24/03) ter testado um drone submarino não tripulado capaz de desencadear um "tsunami radioativo" que destruiria frotas de ataque naval e portos. Analistas estão céticos sobre a real ameaça do novo dispositivo, mas o teste ressalta a tentativa de Pyongyang em aumentar seu poderio nuclear.
"Este aparelho submarino de ataque nuclear pode ser colocado em qualquer costa e porto ou rebocado por um navio de superfície", noticiou a agência estatal de notícias norte-coreana KCNA.
O objetivo do aparelho seria "se infiltrar furtivamente em águas operacionais e produzir um tsunami radioativo de grande escala, para destruir os grupos de ataque naval e os principais portos operacionais do inimigo."
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, supervisionou pessoalmente os testes, afirmou a agência, acrescentando que Pyongyang disparou na quarta-feira mísseis de cruzeiro estratégicos "equipados com uma ogiva de teste que simula uma ogiva nuclear".
Durante o teste, segundo Pyongyang, o dispositivo explodiu depois de navegar no Mar do Japão, a uma profundidade de 80 a 150 metros, num percurso oval e em forma de oito, durante 59 horas e 12 minutos. A detonação ocorreu num alvo que representaria um porto inimigo.
Contaminação permanece por décadas
O drone submarino testado é semelhante ao sistema russo conhecido como Poseidon, que ao explodir provoca ondas gigantes de poluição. Além de destruir frotas e infraestrutura, esse tipo de armamento tem capacidade de causar danos ambientais terríveis às regiões costeiras, que permaneceriam contaminadas por décadas, tanto na parte terrestre quanto nas águas circundantes.
Kim Jong-un teria supervisionado pessoalmente o teste do drone submarino Foto: Lee Jin-man/AP/picture alliance |
De acordo com a KCNA, o drone submarino começou a ser desenvolvido em 2012 e já foi submetido a 50 tipos de testes nos últimos dois anos, sendo 29 na presença de Kim. A existência da suposta arma, porém, nunca fora mencionada na mídia estatal, até esta sexta-feira. O teste mais recente faz parte de um exercício de três dias que simulou ataques nucleares contra alvos sul-coreanos não específicos.
A agência estatal norte-coreana afirmou ainda que os testes visam alertar os Estados Unidos e a Coreia do Sul para uma "crise nuclear" em formação, se eles continuarem seus exercícios de guerra "intencionais, persistentes e provocadores".
Os EUA e a Coreia do Sul terminaram nesta quinta-feira seu maior exercício militar conjunto dos últimos anos, que durou 11 dias, e agora já estão se preparando para próximo, que deve incluir um porta-aviões americano.
Analistas questionam suposta arma
Apesar das declarações oficiais, analistas questionam o potencial da suposta nova arma testada por Pyongyang. Segundo Kim Dong-yub, professor de Estudos Norte-Coreanos na Universidade de Seul, é impossível verificar essas alegações, mas a principal intenção do Norte seria comunicar que o drone submarino pode alcançar todos os portos sul-coreanos.
A ideia de que Pyongyang tem uma ogiva submarina com capacidade nuclear "deve ser encarada com ceticismo", avaliou o professor Leif-Eric Easley da Universidade de Ewha, em Seul.
O analista americano Ankit Panda, do think tank Carnegie Endowment for International Peace, não excluiu que a alegação sobre o teste tenha sido uma "tentativa de engano ou manobra psicológica". Ele questiona a sensatez da Coreia do Norte em empregar recursos no sistema de drones como um meio de entrega para seus mísseis balísticos, quando tem quantidade limitada de materiais nucleares adequados para as armas.
Analistas também duvidam das alegações, devido à alta complexidade que tal sistema exige. A Rússia afirma ter drones submarinos em condições operacionais há meses, embora haja enorme sigilo em torno do projeto. Sabe-se, porém, que o sistema russo requer propulsão nuclear – uma capacidade que Pyongyang não possui.
DW Brasil/cn/av (EFE, Lusa, AP)