O tão aguardado discurso do chefão do maior banco central do mundo aconteceu depois da divulgação de dados que mostraram que a inflação perdeu força nos EUA e, ainda assim, os investidores não gostaram do que ouviram; entenda por quê
Há exatamente um mês, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, dizia o que o mercado queria ouvir: o juro continuaria a subir nos EUA para conter a inflação, no entanto, a tendência era de que o calibre dos aumentos fosse cada vez menor.
Mas parece que as coisas não caminharam exatamente na velocidade que o banco central norte-americano esperava e, 30 dias depois, o mesmo Powell não conseguiu agradar os investidores — com Wall Street manifestando o descontentamento.
Powell discursou nesta sexta-feira (26) no simpósio de Jackson Hole — considerado uma espécie de copa do mundo dos BCs. Além de reunir banqueiros centrais do mundo todo, o evento costuma ser palco de importantes declarações de política monetária. Veja um trecho do vídeo.
O que Powell disse que o mercado não gostou
A reação negativa de Wall Street não foi pelo que Powell disse, mas como ele falou. O discurso do chefão do Fed foi dominado por um tom hawkish que, no jargão do mercado financeiro, significa um tom inclinado para o aperto monetário.
“Sem a estabilidade de preços, a economia não funciona para ninguém. Em particular, sem estabilidade de preços, não alcançaremos um período sustentado de fortes condições do mercado de trabalho que beneficiem a todos”, disse Powell logo no começo do discurso.
O presidente do Fed admitiu ainda que restaurar a estabilidade de preços nos EUA levará algum tempo e demandará o uso de ferramentas com força para equilibrar a demanda e a oferta — mantendo a porta aberta para uma nova alta de juro de 0,75 ponto percentual (pp).
“A redução da inflação provavelmente exigirá um período sustentado de crescimento abaixo da tendência. Além disso, muito provavelmente haverá algum abrandamento das condições do mercado de trabalho”, afirmou.
Powell avisa: a fatura do juro alto vai chegar
Powell afirmou que uma abordagem tão dura, com uma taxa de juro mais alta, vai fazer a inflação desacelerar, mas uma fatura terá que ser paga para isso.
O crescimento da economia dos EUA vai ser mais lento e as condições do mercado de trabalho devem ser mais brandas, o que, nas palavras do presidente do Fed, “terá um custo para famílias e empresas” norte-americanas.
“Estes são os custos infelizes de reduzir a inflação. Mas uma falha em restaurar a estabilidade de preços significaria uma dor muito maior”, disse.
Na avaliação de Powell, a economia dos EUA está claramente desacelerando em relação às taxas de crescimento historicamente altas de 2021 — que refletiram a reabertura da economia após a recessão pandêmica.
“Embora os dados econômicos mais recentes tenham sido confusos, na minha opinião nossa economia continua a mostrar um forte impulso subjacente”, afirmou.
Em um tom de morde e assopra, Powell chamou atenção do mercado de trabalho, que é forte, mas está desequilibrado, com a demanda por mão de obra superando substancialmente a oferta de trabalhadores disponíveis.
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