"Paralisação" do núcleo interno da Terra pode ocasionar uma pequena diminuição na duração de um dia, explicam os pesquisadores
Um estudo feito por cientistas chineses a partir de dados de terremotos descobriu que o núcleo interno da Terra parou de girar mais rápido do que o planeta – e isso pode trazer consequências.
De acordo com os sismólogos Yi Yang e Xiaodong Song, da Universidade de Pequim, autores da pesquisa, que foi publicada nesta segunda-feira (23) na revista Nature Geoscience, o resultado foi surpreendente.
Representação artística das camadas da Terra: crosta, manto, núcleo externo e núcleo interno – que alterou seu próprio ritmo de rotação, o que vai trazer consequências para o funcionamento do planeta. Créditos: Rost9/Shutterstock |
Entenda a paralisação do núcleo da Terra e suas consequências
Segundo os pesquisadores, que estudam o movimento do núcleo da Terra desde 1995, o núcleo interno costumava girar mais rápido do que o planeta como um todo e, em dado momento das últimas décadas – possivelmente em 2009 -, teria passado a acompanhar o movimento natural do globo.
E isso pode afetar a forma como o nosso planeta funciona, implicando, por exemplo, em mudanças nos campos gravitacionais e magnéticos da Terra. Além disso, é possível haver consequências geofísicas mais amplas, como a alteração na duração de um dia completo em algumas frações de segundo.
Isso porque a duração de um dia está diretamente ligada ao movimento de rotação da Terra em torno do próprio eixo (que dura 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 0,9 décimo de segundo).
Outras possíveis alterações seriam em relação ao nível do mar e à temperatura da Terra.
“Nos últimos anos, os dias estão ficando mais curtos e pode ser que haja relação com esta mudança [na forma como o núcleo gira]”, explicou Song em entrevista ao jornal espanhol El País. “A alteração na rotação também pode modificar o campo gravitacional como um todo e causar deformações na superfície, o que alteraria também o nível do mar e, por sua vez, a temperatura global do planeta”.
Os autores acreditam que os resultados da pesquisa podem ajudar a desvendar alguns mistérios, como a função que o núcleo interno desempenha na manutenção do campo magnético da Terra.
Tão quente quanto a superfície do Sol e com ritmo próprio
A camada mais externa do globo terrestre é a crosta, que inclui a superfície em que pisamos. Mais abaixo, vem o manto, essencialmente uma rocha sólida. Um pouco mais profundo, está o núcleo externo, que é feito de ferro líquido e outros elementos. Por fim, vem o núcleo interno, feito essencialmente de ferro sólido, e com um raio que é 70% do tamanho da Lua.
Localizado a aproximadamente cinco mil quilômetros de profundidade, o núcleo da Terra, portanto, é uma bola de ferro quente que tem cerca de sete mil quilômetros de largura. O núcleo externo separa o núcleo interno do restante do planeta, permitindo que ele gire em um ritmo próprio.
Conforme divulgado pelo Olhar Digital esta semana, partes do núcleo permanecem há bilhões de anos tão quentes quanto a superfície do Sol.
Existem duas fontes para esse aquecimento. Uma é o calor que o planeta herdou durante sua formação há 4,5 bilhões de anos. A Terra foi feita a partir da nebulosa solar, uma gigantesca nuvem gasosa, em meio a intermináveis colisões e fusões entre pedaços de rocha e detritos chamados planetesimais. Esse processo levou dezenas de milhões de anos.
Uma enorme quantidade de calor foi produzida durante essas colisões, o suficiente para derreter todo o planeta. Embora parte desse calor tenha sido perdido no espaço, o resto foi trancado dentro da Terra, onde grande parte dele permanece até hoje.
A outra fonte de calor é o decaimento de isótopos radioativos, distribuídos por toda parte no globo.
“Para entender isso, primeiro imagine um elemento como uma família com isótopos como seus membros”, exemplifica Shichun Huang, professor associado de Ciências da Terra e Planetárias na Universidade do Tennessee, nos EUA. “Cada átomo de um dado elemento tem o mesmo número de prótons, mas diferentes primos isótopos têm números variados de nêutrons”.
Os isótopos radioativos não são estáveis. Eles liberam um fluxo constante de energia que se converte em calor. Potássio-40, tório-232, urânio-235 e urânio-238 são quatro dos isótopos radioativos que mantêm o interior da Terra quente.
Juntamente com o núcleo quente e o manto, esses isótopos liberadores de energia é que fornecem o calor para impulsionar o movimento das placas.
Huang diz que as placas em movimento continuam mudando a superfície da Terra, constantemente fazendo novas formações geológicas e novos oceanos ao longo de milhões e bilhões de anos.
E, como dito, nada disso aconteceria se não fosse o calor interno da Terra, sem o qual as placas não estariam se movendo. “A Terra teria esfriado. Nosso mundo provavelmente teria sido inabitável”, disse Huang. “Você não estaria aqui. Pense nisso, da próxima vez que sentir a Terra sob seus pés”.
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Por Olhar Digital.