A primavera atípica na Europa está a fazer soar os alarmes da seca em vários países. A falta de água em Itália, é já responsável pela mais grave seca dos últimos 70 anos e levou o governo italiano a declarar, no início de julho e até ao final do ano, o estado de emergência em cinco regiões do norte do país.
Duas semanas mais tarde, a ausência de precipitação significativa agravou a situação.
- Regiões em estado de emergência: Emilia-Romagna, Friuli-Venezia Giulia, Lombardia, Piedmont, Veneto
- Área corresponde a 42% da população italiana
- Região responsável por 51% do Produto Interno Bruto italiano
Ao longo de uns 800 quilómetros, as paisagens de três das regiões mais afetadas - Lombardia, Piamoente e Emilia Romagna - testemunham as sequelas de falta de água nos solos.
Arrozais outrora inundados apresentam-se agora secos. Os campos de milho estão parcialmente queimados. Diz quem cultiva as terras que nunca viu nada assim.
#ImageOfTheDay
Drought is gripping a large part of Europe
According to @CopernicusEMS European Drought Observatory (EDO)
4⃣5⃣% of the 🇪🇺 territory is currently in 'Warning' conditions 🟠
1⃣3⃣% in 'Alert' conditions🔴
⬇️#EDO Combined Drought Indicator for the period 1-10 July pic.twitter.com/f96FDJhzA8
Aos 40 anos, também Armando Tamagn, produtor de milho, lamenta a atual situação.
"Às vezes havia escassez de água, mas havia sempre o suficiente para regar. É uma enorme perda económica para os setores agrícola e agroalimentar. E depois, um campo como este devia ser verde, fresco, brilhante. Não amarelo e seco".
Peixes fora de água
A agricultura é o setor mais afetado pela seca, mas não é o único.
Perto de Piacenza, pescadores tentam salvar peixes a agonizar de um ribeiro igualmente moribundo. Cuidadosamente colocam os animais em contentores com água enriquecida com oxigénio e transportaram-nos para rios nas proximidades.
Pescadores tentam salvar fauna de rios secos em // ItáliaWITNESS/EURONEWS |
Nicolas Sivelli, é pescador amador. Num simples passeio de barco pelo rio Pó, mostra o que o calor extremo está a fazer a este, que é o mais longo rio italiano. O nível da água está tão baixo que porções inteiras do leito formam agora lagoas e lagos.
No auge da época balnear, as famílias já não procuram o Pó para atividades ao ar livre. Também as atividades económicas fluviais estão a secar, com os pequenos barcos turísticos atracados ao cais e a plataforma de extração de areia encerrada, porque as embarcações não conseguem circular.
De frente para a bacia do rio, Carlo Verri, proprietário de um restaurante local, lembra como a região mudou desde o tempo em que o estabelecimento pertencia aos seus avós.
"Quando era criança, costumava pescar a partir deste terraço diretamente no rio. A cana chegava à água. Havia muito peixe. Agora, o curso de água está longe daqui. E quase não há peixe".
As autoridades locais, regionais e nacionais estão sob pressão para encontrar soluções.
Meuccio Bersell, diretor-geral da Agência do Rio Pó, revela que, nos últimos 20 anos, esta é já a sexta vez que a região vive uma crise de escassez de água.
Para que haja uma contenção dos danos, enumera algumas das medidas necessárias.
"Precisamos de investir para evitar que isto volte a acontecer. Precisamos de ser capazes de reter água quando chove e de libertá-la quando é necessária. Precisamos também de criar novas estações de tratamento de água, para que a água reciclada possa ser reutilizada pela agricultura. Também precisamos de melhorar as canalizações, porque 40% da água canalizada são desperdiçados. E precisamos de melhorar os sistemas de irrigação, que têm de ser modernizados através de inovação e tecnologia".
Populações dos Alpes dependem do abastecimento de água potável // WITNESS/EUORNEWS |
Mas tudo isto leva tempo e dinheiro, o que vai atrasando uma resposta urgente, quando algumas povoações dependem já de abastecimento de água potável.
Algumas, por incrível que pareça, encontram-se no sopé dos Alpes. Os seus reservatórios estão literalmente vazios e o fornecimento depende dos camiões de distribuição.
Num único dia, uma só aldeia obriga a pelo menos quatro viagens, O processo, repetido dia após dia por Samuel Ifiebgória, é necessário para o quotidiano de muitos habitantes, pois, conforme relembra o responsável pelo abastecimento, "água é vida. Sem água não se pode fazer nada".
Por Euronews.