Grupo de países produtores irá retirar 1,16 milhão de barris por dia do mercado. Decisão pode afetar inflação e taxas de juros pelo mundo, e colocar à prova disposição da nova gestão da Petrobras em segurar reajustes.
A aliança Opep+ , que reúne países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados, informou nesta segunda-feira (03/04) que a partir de maio irá retirar 1,16 milhão de barris de petróleo por dia (mbd) do mercado com base em cortes "voluntários" de vários de seus membros.
O comunicado faz alusão a decisões inesperadas anuciadas por outros países no domingo sobre novas limitações à oferta de petróleo que impulsionaram fortemente o preço do petróleo bruto.
A Opep+ "tomou nota de que se trata de uma medida de precaução destinada a apoiar a estabilidade do mercado petrolífero", destacou o comunicado.
A decisão soma-se a outra redução de 0,5 mbd da Rússia e ao corte acentuado de 2 mb, que a Opep+, formada por 23 países, adotou em outubro do ano passado.
A iniciativa desse grupo, que controla cerca de 40% da oferta mundial de petróleo, surpreendeu os mercados. Analistas não esperavam que a Opep+ modificasse seus níveis de oferta no momento.
Os anúncios de domingo já haviam impactado o preço do petróleo: o barril de Brent, principal referência internacional, chegou a 84 dólares nesta segunda-feira.
A decisão da Opep ocorre após o preço do petróleo bruto cair para 70 dólares o barril, o valor mais baixo em 15 meses. O objetivo da aliança é manter os preços acima de determinado patamar.
Reações ao aumento
A notícia alimentou o temor de novas pressões inflacionárias. "Acreditamos que esses cortes não são recomendados neste momento devido à incerteza do mercado e deixamos isso claro", disse um porta-voz do Conselho de Segurança da Casa Branca.
O comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, alertou que a decisão da Opep+ deixa claro que o mercado petrolífero "é um mercado artificial" e defendeu o abandono das fontes fósseis o mais rápido possível.
"Depois desta decisão, é urgente, verdadeiramente urgente, deixar de depender dos combustíveis fósseis porque quem os controla, ou pelo menos controla a parte maior, está brincando com isso", criticou Breton em entrevista à emissora de rádio France Info.
Já o Kremlin saiu em defesa da "importante medida" que, entre outros pontos, teria como objetivo garantir investimentos no setor. Os cortes servem para "manter os preços mundiais do petróleo e derivados no nível apropriado", disse Dmitry Peskov, porta-voz da presidência russa.
Impacto no Brasil
A decisão da Opep+ também pode afetar os brasileiros. Oficialmente, a Petrobras ainda usa o Preço de Paridade de Importação (PPI) para definir o valor que cobra dos distribuidores que compram seus combustíveis. Ele considera o preço dos praticado no mercado internacional, os custos logísticos de trazê-los ao Brasil e uma margem para remunerar os riscos da operação.
Ou seja: se o preço dos combustíveis aumentar no exterior devido ao poder de barganha da Opep+, poderia aumentar no Brasil também. Essa fórmula foi adotada no governo Michel Temer.
No entanto, uma das bandeiras de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva era "abrasileirar" o preço dos combustíveis. O novo presidente da estatal, Jean Paul Prates, defendeu em 23 de março que a Petrobras deixe de usar essa fórmula como referência para definição de preços de combustíveis e afirmou que sua gestão não estará submetida ao "dogma do PPI".
"Eu não preciso, necessariamente, estar amarrado ao preço do importador que é o meu principal concorrente. Ao contrário. Paridade de importação não é preço que a Petrobras deve praticar”, Prates.
Uma alta consistente do preço dos combustíveis no mercado internacional colocaria à prova a disposição do atual comando da estatal em não repassar essa alta aos distribuidores, o que costuma provocar insatisfação nos acionistas privados da Petrobras e nos importadores privados de combustíveis que atuam no Brasil.
Outra questão é que a alta no preço do barril no mercado internacional pode pressionar a inflação ao redor do mundo e, consequentemente, a política de juros básica dos países, entre eles o Brasil.
Desde que assumiu o seu terceiro mandato presidencial, Lula vem fazendo críticas à alta taxa de juros e ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
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DW Brasil/le/bl (EFE, ots)